Contratos do Exército com empresas investigadas somam milhões e levantam suspeitas
Empresa alvo de investigação por fraudes no INSS firmou 13 contratos com o Exército desde 2019; cinco ainda estão ativos, totalizando R$ 3,3 milhões
O Exército Brasileiro mantém cinco contratos em vigor com a Orleans Viagens e Turismo, empresa que está no centro de uma investigação da Polícia Federal (PF). O caso ganha destaque por envolver possível desvio de recursos públicos, fraudes contra beneficiários do INSS e a manutenção de contratos públicos mesmo com indícios de irregularidades.
Desde 2019, a Orleans Viagens e Turismo firmou 13 contratos com o Exército, abrangendo as gestões de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os acordos foram viabilizados por licitações conduzidas pelo Ministério da Defesa e tinham como objeto a prestação de serviços de agenciamento de viagens, com compra de passagens aéreas e rodoviárias para servidores militares.
O que mais chama atenção é o fato de que, mesmo com a empresa sob suspeita, cinco desses contratos continuam ativos, somando um valor de R$ 3,3 milhões. O maior deles, ainda em vigência, está avaliado em R$ 2,2 milhões.
Contratos públicos com empresas sob suspeita: prática recorrente?
A manutenção de contratos do Exército com empresas investigadas levanta questionamentos sobre os critérios utilizados por órgãos públicos ao contratar prestadores de serviço. A legislação atual permite a participação de empresas em licitações mesmo que elas estejam sendo investigadas, desde que não haja condenação definitiva. No entanto, o contexto de uma apuração da PF pode gerar desgaste à imagem da administração pública e indicar falhas nos mecanismos de controle e compliance.
Especialistas em direito administrativo apontam que, embora juridicamente viável, a permanência de empresas sob investigação como fornecedoras do Estado pode comprometer a transparência e a integridade dos contratos públicos. Além disso, abre margem para questionamentos sociais e institucionais, especialmente quando há envolvimento de verbas que deveriam ser destinadas à população mais vulnerável, como aposentados e pensionistas.
Investigação aponta repasses de origem duvidosa
Segundo a Polícia Federal, a Orleans Viagens e Turismo está sendo investigada por receber R$ 5 milhões da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), entre março de 2020 e novembro de 2024. Os valores teriam sido destinados à aquisição de 16 salas comerciais em São Bernardo do Campo (SP).
O mais grave é que esses recursos podem ter origem em desvios de valores do INSS, segundo as autoridades. A PF apura se houve descontos irregulares nos benefícios de aposentados e pensionistas, configurando um esquema de fraude contra o sistema de seguridade social. A empresa, no entanto, nega qualquer envolvimento em irregularidades e afirma que todos os contratos foram legalmente firmados e estão sendo devidamente cumpridos.
Contratos do Exército com empresas investigadas: falha no controle ou escolha consciente?
A permanência de vínculos contratuais com empresas sob suspeita não é exclusividade do Exército. Órgãos públicos em diferentes esferas já foram alvos de críticas por manter relações comerciais com fornecedores problemáticos. O caso da Orleans Viagens e Turismo ganha destaque por envolver simultaneamente duas instituições públicas de grande alcance nacional: o Exército e o INSS.
A questão que se impõe é: os mecanismos de compliance e fiscalização do poder público são suficientes para evitar o uso indevido de recursos públicos? No caso em análise, o histórico da empresa e sua exposição em investigações deveriam ter acendido alertas nos setores responsáveis por auditorias e controle interno.
R$ 3,3 milhões em contratos em vigor: como esse valor é distribuído?
Dos cinco contratos ativos entre o Exército e a Orleans Viagens e Turismo, o de maior valor chega a R$ 2,2 milhões. Os demais, somados, completam os R$ 3,3 milhões em compromissos financeiros ainda vigentes com a empresa. Os serviços prestados envolvem principalmente intermediação na compra de passagens aéreas e rodoviárias, um setor altamente sensível a sobrepreços e fraudes quando não há controle rigoroso sobre notas fiscais, tarifas, comissões e justificativas de deslocamento.
A ausência de informações públicas detalhadas sobre a execução contratual — como relatórios de viagens, usuários dos serviços e comprovação das passagens emitidas — dificulta a fiscalização por parte da sociedade civil.
Impacto institucional: como esse caso afeta o Exército Brasileiro?
A associação entre o Exército e uma empresa sob investigação da PF tem implicações que vão além do aspecto financeiro. A imagem da instituição militar pode ser afetada negativamente, sobretudo em um contexto de polarização política e crescente cobrança por integridade na gestão pública.
Embora o Exército não esteja sendo investigado, o simples fato de manter contratos com uma empresa citada em operações policiais pode ser interpretado como descuido com a reputação institucional e com o zelo pelo dinheiro público. Em tempos de combate à corrupção, a percepção pública se torna tão relevante quanto a legalidade formal.
O que diz a empresa Orleans Viagens e Turismo?
A empresa investigada alega que atua há mais de uma década no setor de turismo, oferecendo serviços tanto para o setor público quanto privado. Em nota oficial, a Orleans Viagens afirma que todos os contratos foram firmados dentro da legalidade e que os serviços prestados seguem padrões de transparência, com envio de relatórios, faturas e prestações de contas exigidas por lei.
Ainda segundo a empresa, não há qualquer irregularidade nas contratações com o Exército Brasileiro, e os repasses de valores pela Contag teriam sido utilizados conforme o planejamento empresarial.
Contratos do Exército com empresas investigadas e o impacto na política nacional
A conexão entre órgãos federais e empresas citadas em investigações tende a ter repercussão política relevante, especialmente quando envolve temas como fraudes no INSS e possível apropriação indevida de recursos destinados a programas sociais. Deputados e senadores da oposição e da base governista já manifestaram interesse em acompanhar o desdobramento da apuração e pressionar por medidas corretivas, caso as suspeitas se confirmem.
O que esperar das próximas etapas da investigação?
A Polícia Federal segue colhendo depoimentos, analisando documentos e rastreando o destino dos recursos transferidos à Orleans Viagens e Turismo. Caso seja comprovada a origem ilícita dos valores utilizados na aquisição dos imóveis, e se confirmada a relação direta com contratos públicos, novas frentes de investigação podem se abrir.
O caso pode se transformar em um novo escândalo envolvendo o uso de empresas de fachada ou laranjas para esquentar recursos desviados de programas públicos, como já ocorreu em outras operações da PF. O acompanhamento de cada fase será essencial para avaliar os desdobramentos legais e políticos.
O caso envolvendo os contratos do Exército com empresas investigadas como a Orleans Viagens e Turismo expõe uma fragilidade estrutural nos sistemas de controle de contratações públicas. Embora juridicamente amparadas, as relações com empresas sob suspeita causam danos reputacionais, levantam dúvidas sobre a eficiência da gestão pública e revelam possíveis brechas que ainda permitem o uso indevido de verbas públicas em pleno 2025.