Roberto Campos Neto assume vice-presidência do Nubank com foco em expansão global
O mercado financeiro brasileiro e internacional foi surpreendido com o anúncio oficial da entrada de Roberto Campos Neto como novo vice-presidente e chefe global de políticas públicas do Nubank. Com início previsto para 1º de julho de 2025 — data que marca o fim da quarentena obrigatória para ex-presidentes do Banco Central (BC) — a movimentação representa mais um caso da chamada “porta giratória” entre o setor público e o privado, além de sinalizar novos rumos estratégicos para a fintech brasileira, especialmente no campo da regulação e expansão internacional.
Nova fase: do Banco Central ao Nubank
Campos Neto liderou o Banco Central do Brasil entre 2019 e 2024, período em que consolidou projetos inovadores como o PIX, o Open Finance e o Drex (real digital). Sua gestão foi marcada tanto pela digitalização dos serviços financeiros quanto por uma postura controversa sobre política monetária, com defesa de juros elevados e proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Agora, no setor privado, sua missão será elevar o patamar do Nubank em relação ao diálogo regulatório global, liderar estratégias de longo prazo e impulsionar a presença da instituição em novos mercados, com destaque para América Latina e outras regiões com potencial de crescimento para serviços financeiros digitais.
Quarentena e transição oficial
Embora o anúncio da contratação já tenha sido realizado, a entrada efetiva de Campos Neto no Nubank só ocorrerá em julho, após o término do período de quarentena imposto pela Comissão de Ética Pública (CEP). O próprio executivo já informou formalmente à CEP sobre sua intenção de assumir o novo cargo tão logo esteja apto legalmente.
A quarentena é uma salvaguarda ética para impedir que ex-ocupantes de cargos estratégicos utilizem imediatamente seu conhecimento e influência a favor de empresas privadas. No caso do ex-presidente do BC, a quarentena se mostrou insuficiente para conter críticas populares nas redes sociais, onde muitos usuários demonstraram insatisfação com a nomeação.
Críticas nas redes sociais expõem desgaste da imagem
Apesar do prestígio técnico de Campos Neto, a reação à sua nomeação não foi positiva em diversos setores da sociedade. Nas redes sociais, usuários se mostraram céticos com a contratação, apontando conflito de interesses e até ameaçando encerrar suas contas no banco digital. Comentários como “Vou cancelar minha conta hoje” ou “Tá na hora de sair do Nubank” viralizaram, alimentando um debate sobre a influência do sistema financeiro sobre instituições independentes e o conceito de “porta giratória”.
Esse tipo de movimentação — onde executivos de alto escalão do setor público migram para o setor privado — sempre causa reações polarizadas. No caso de Campos Neto, o histórico de decisões no BC e a recente filiação a um dos maiores bancos digitais do mundo intensificaram o debate.
Por que o Nubank contratou Roberto Campos Neto
Apesar das reações negativas, há razões estratégicas robustas por trás da decisão. Segundo o próprio Nubank, o objetivo é fortalecer o relacionamento com reguladores globais, representar a instituição em fóruns internacionais e consolidar uma política pública eficaz que garanta competitividade e inovação no setor financeiro.
A trajetória de Campos Neto é, de fato, notável. Antes de presidir o Banco Central, teve passagens por instituições como o Santander, Claritas e Bozano Simonsen. Seu conhecimento profundo sobre economia digital e regulamentação é considerado essencial para os planos de internacionalização do Nubank, especialmente em países latino-americanos, onde o banco já possui operações.
O CEO e fundador do Nubank, David Vélez, destacou o papel do novo vice-presidente em tecnologias como o PIX e o Open Finance, afirmando que essas experiências foram determinantes para sua contratação.
Expansão internacional: prioridade da nova gestão
Com presença sólida no Brasil, México e Colômbia, o Nubank agora mira novos territórios. A nomeação de Roberto Campos Neto se insere nesse contexto de expansão. O ex-presidente do BC será responsável por conduzir a agenda global da instituição, ajudando a empresa a navegar nas complexidades regulatórias de outros países e moldar um portfólio de produtos adaptado a diferentes contextos culturais e econômicos.
Entre os desafios, estão a adequação a sistemas financeiros diversos, os riscos cambiais e a concorrência com bancos locais tradicionais. Campos Neto, com sua expertise técnica e conexões institucionais, deverá atuar como articulador político e institucional nessas frentes.
Impactos no setor bancário e cenário político
A chegada de Campos Neto ao Nubank pode alterar o equilíbrio competitivo entre os grandes bancos brasileiros e as fintechs. Ao trazer uma figura com amplo trânsito entre autoridades monetárias, o Nubank reforça sua intenção de não ser apenas um banco digital acessível, mas um ator relevante na definição do futuro das finanças na América Latina.
Além disso, sua proximidade com figuras políticas e sua atuação durante o governo Bolsonaro colocam o Nubank em um novo patamar de protagonismo político-financeiro, que pode gerar tanto oportunidades quanto críticas mais incisivas da sociedade civil.
A “porta giratória” no centro do debate
A ida de Campos Neto ao Nubank também reacende a discussão sobre o fenômeno da “porta giratória”, em que altos executivos do setor público migram para instituições privadas que regulavam ou com as quais interagiam diretamente. Embora legal, a prática é vista com desconfiança por parcela da sociedade, que teme conflito de interesses e captura regulatória.
Esse tipo de movimento não é exclusivo do Brasil e ocorre em diversos países. Contudo, sua frequência crescente no país exige maior debate público e, possivelmente, a criação de regras mais rigorosas para evitar a percepção de favorecimento indevido.
Perspectivas para o futuro do Nubank com Campos Neto
Com a chegada de Roberto Campos Neto, o Nubank sinaliza uma mudança de perfil institucional: de startup financeira disruptiva para uma instituição madura e inserida no jogo político global das finanças. Essa transformação, se bem-sucedida, pode consolidar o banco como uma das maiores fintechs do mundo, com forte capacidade de interlocução com órgãos reguladores e presença nos principais fóruns econômicos internacionais.
Para isso, o novo vice-presidente terá um papel decisivo, sendo responsável por construir pontes, evitar choques regulatórios e alinhar o modelo de negócio do Nubank às exigências globais de segurança, transparência e inovação financeira.