Panorama econômico global se agrava em 2025, pressionando mercados e projeções de lucro
LONDRES – O cenário econômico mundial em 2025 está cada vez mais pressionado pelas tensões geopolíticas e tarifas comerciais, fatores que vêm alterando significativamente o comportamento de grandes empresas multinacionais e afetando diretamente o desempenho de suas ações nas principais bolsas europeias. Nesta terça-feira (29), o mercado europeu refletiu esses impactos com oscilações relevantes em papéis de empresas de setores-chave, como financeiro, automobilístico e esportivo.
A ação do HSBC, um dos maiores bancos da Europa, registrava alta de 1,96% na Bolsa de Londres, mesmo diante de um alerta sobre perdas de crédito no primeiro trimestre. Já a Adidas, a montadora Porsche e a sueca Volvo enfrentavam quedas expressivas em suas respectivas bolsas. Esses movimentos refletem o crescente pessimismo com o cenário macroeconômico, marcado por instabilidade geopolítica e a escalada protecionista entre potências como China, Estados Unidos e países da União Europeia.
HSBC vê aumento no risco de crédito com deterioração global
Mesmo com valorização de suas ações, o HSBC alertou para uma elevação nas perdas de crédito esperadas no primeiro trimestre de 2025. O banco britânico atribuiu o aumento a um ambiente global mais incerto, com deterioração das perspectivas econômicas. As razões apontadas incluem o agravamento das tensões geopolíticas e a imposição de tarifas comerciais mais altas entre blocos econômicos estratégicos, principalmente entre China e Estados Unidos.
Segundo comunicado da instituição, o atual cenário pode desencorajar a tomada de crédito por empresas e consumidores, prejudicando a performance de carteiras de empréstimos. A redução na confiança econômica também leva a um aumento no provisionamento de perdas, o que reduz a margem operacional dos bancos, mesmo os de maior porte.
Adidas sinaliza aumento de preços e dificuldades com tarifas dos EUA
No setor esportivo, a Adidas, gigante alemã dos artigos esportivos, viu suas ações caírem 1,43% na Bolsa de Frankfurt. A companhia enfrenta incertezas em relação às tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Apesar de já ter redirecionado parte significativa de sua produção para fora da China, a marca ainda sofre com os efeitos das medidas protecionistas e já cogita aumentar os preços de seus produtos para compensar os custos adicionais.
O clima de incerteza impediu a Adidas de revisar para cima suas projeções de desempenho para o ano, o que em tempos de estabilidade seria algo natural. A estratégia de redução de dependência da produção chinesa, que já vem sendo adotada desde 2023, mostrou-se insuficiente frente à imprevisibilidade de novas tarifas e à instabilidade geopolítica global.
Porsche reduz projeções com queda nas entregas à China
A Porsche, tradicional marca alemã do setor automobilístico de luxo, também sentiu os efeitos das turbulências econômicas. Suas ações despencaram 6,75% na Bolsa de Frankfurt após a empresa revisar para baixo suas expectativas para o ano. O motivo? Uma redução nas entregas para a China, um de seus principais mercados consumidores, e o impacto direto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos.
O corte nas projeções evidencia como o setor automotivo europeu está vulnerável à guerra tarifária e à dependência de exportações para economias emergentes e potências industriais. A combinação de menor demanda e aumento de custos logísticos e tributários tem pressionado a rentabilidade das montadoras.
Volvo enfrenta cenário inédito e desafiante no setor automotivo
Já a Volvo, fabricante sueca conhecida por seus veículos seguros e sustentáveis, também sofreu queda, com recuo de 0,94% na Bolsa de Estocolmo. A empresa declarou que se sente “vulnerável às tarifas” e que o setor automotivo enfrenta “desafios nunca antes vistos”, um indicativo claro de que os efeitos das tensões geopolíticas e das barreiras comerciais estão se intensificando.
A empresa mencionou, sem especificar mercados, que o setor está atravessando um período de transição em que cadeias de suprimento globais estão sendo reavaliadas. Fabricantes europeus enfrentam o dilema de manter a competitividade internacional sem perder margem de lucro em meio ao aumento de tarifas e à pressão por alternativas sustentáveis de produção e logística.
Entenda como as tensões geopolíticas afetam a economia global
As tensões geopolíticas afetam diretamente o comércio internacional e as cadeias de produção globais. Conflitos regionais, disputas comerciais e políticas protecionistas criam incertezas que levam investidores a tomarem decisões mais cautelosas, o que reduz o volume de negociações e encarece o crédito.
Quando governos adotam tarifas comerciais, o objetivo geralmente é proteger a produção interna. No entanto, essas medidas geram retaliações, fragmentam o mercado e criam barreiras para o livre comércio, afetando desde pequenas empresas até multinacionais. Empresas com operações globais precisam rever continuamente suas estratégias logísticas e operacionais, o que aumenta os custos e reduz a previsibilidade dos lucros.
Empresas globais enfrentam dilema entre competitividade e proteção de mercado
Diante das tarifas comerciais elevadas e da instabilidade política global, empresas como HSBC, Adidas, Porsche e Volvo estão sendo forçadas a rever seus planos de crescimento. Muitas já começaram a diversificar a produção e os mercados-alvo, mas a velocidade das mudanças políticas e econômicas exige respostas ainda mais ágeis.
Essas companhias enfrentam o dilema de repassar os custos aos consumidores, o que pode reduzir sua competitividade, ou absorver parte das perdas, afetando seus resultados financeiros. O cenário de 2025 impõe uma nova era de incertezas que desafia modelos de negócio antes tidos como consolidados.
Impactos esperados para o segundo semestre de 2025
Com o acirramento das tensões geopolíticas e das tarifas comerciais, analistas projetam que o segundo semestre de 2025 será marcado por:
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Redução nas exportações de empresas europeias;
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Queda na produção industrial em países altamente dependentes de comércio exterior;
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Aumento no preço de produtos importados;
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Pressão inflacionária em cadeias de suprimento globais;
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Crescente desvalorização de ações de setores sensíveis, como automotivo e bens de consumo.
Além disso, há o risco crescente de que bancos centrais tenham que intervir com medidas de estímulo ou revisão de políticas monetárias para mitigar os efeitos negativos sobre o crescimento.
Um novo ciclo de incerteza global
O ano de 2025 marca uma nova fase na economia internacional. As tensões geopolíticas e tarifas comerciais não são apenas questões diplomáticas, mas fatores centrais que moldam o desempenho corporativo, os mercados financeiros e o poder de compra do consumidor.
Empresas que atuam globalmente precisarão ser cada vez mais estratégicas e resilientes para sobreviver a esse novo ambiente. A adaptação será a palavra de ordem para os próximos trimestres, e a habilidade de reagir rapidamente a mudanças externas será determinante para manter a relevância no mercado.