Investidores Miram o Cenário Político Mais do que a Política Fiscal
O sentimento do investidor brasileiro sofreu uma inversão significativa em 2025, conforme revelado pela pesquisa de sentimento do investidor do BTG Pactual durante a CEO Conference deste ano. Pela primeira vez, o fator político superou as preocupações fiscais, com 47% dos entrevistados destacando a incerteza em relação ao ciclo político que se inicia em 2026 como o maior motivo de apreensão. Em contraste, 42% apontaram a política fiscal como o principal fator de risco.
Há um mês, a percepção era inversa: apenas 28% dos investidores priorizavam o cenário político, enquanto a maior preocupação era a gestão fiscal. A mudança de perspectiva reflete um contexto econômico mais dinâmico, onde as decisões governamentais e o ambiente eleitoral começam a impactar a confiança do mercado.
A pesquisa também apontou que a pressão inflacionária e a desaceleração da atividade econômica continuam sendo fatores relevantes, ocupando o terceiro e quarto lugar no ranking de preocupações dos investidores.
Cenário Internacional: Taxa de Juros dos EUA Lidera Preocupações
Em um panorama global, a pesquisa do BTG Pactual indicou que 72% dos investidores estão atentos ao comportamento da taxa de juros dos Estados Unidos, fator determinante para os fluxos de capitais e o câmbio brasileiro. Em contrapartida, apenas 17% veem as tarifas comerciais impostas pelo presidente Donald Trump como o maior desafio para o mercado financeiro global.
O impacto das taxas de juros norte-americanas tem sido um elemento crucial para as decisões de investimento, influenciando desde a atratividade da renda fixa até a volatilidade do câmbio. Com os juros dos EUA em patamares elevados, os mercados emergentes como o Brasil enfrentam desafios adicionais para atrair capital estrangeiro.
Investidores Mantêm Otimismo Moderado com Ibovespa
Mesmo diante do cenário de incerteza política e econômica, os investidores demonstram otimismo moderado em relação ao Ibovespa. Segundo a pesquisa, 31% dos participantes afirmaram estar confiantes na valorização do principal índice da bolsa brasileira, enquanto 62% acreditam que os preços atuais das ações estão subvalorizados.
O apetite ao risco também cresceu significativamente. Em fevereiro, 49% dos investidores se declararam dispostos a assumir riscos, um aumento expressivo em relação aos 36% registrados na pesquisa anterior. Esse movimento sinaliza uma tendência de retomada da confiança no mercado de capitais, mesmo com o ambiente político incerto.
Setores Preferidos: Utilities Ganham Destaque, Varejo Sofre Desvalorização
Os setores favoritos para investimento também passaram por mudanças significativas. O setor de utilities, que inclui empresas de energia elétrica e saneamento, consolidou-se como a preferência entre os investidores. A pesquisa revelou que a intenção de compra nesse segmento saltou de 37% para 57% em apenas um mês.
Por outro lado, o setor de varejo enfrenta um momento de desvalorização. De acordo com o levantamento, 35% dos investidores recomendam a venda rápida das ações do setor. Entre as empresas mais visadas para operações de venda a descoberto (short selling), destacam-se Ambev, Bradesco e Lojas Renner.
Queda na Popularidade de Lula Gera Sentimento de FOMO no Mercado
Outro fator que tem agitado o mercado financeiro é a queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo as últimas pesquisas de opinião, apenas 24% dos brasileiros aprovam o atual governo. Essa deterioração na avaliação presidencial gerou impactos imediatos na bolsa de valores.
A incerteza política alimentou o sentimento de FOMO (Fear of Missing Out) entre os investidores, levando a um aumento das operações especulativas. O temor de perder oportunidades de valorização tem impulsionado a movimentação no mercado acionário e cambial.
Análises do JP Morgan indicam que, embora o ambiente político gere volatilidade no curto prazo, ainda é cedo para fazer previsões concretas sobre as eleições de 2026. O banco de investimentos destaca que o mercado tende a reagir a curto prazo, mas as tendências de médio e longo prazo ainda dependem de fatores como crescimento econômico e estabilidade institucional.
O Que Esperar para os Próximos Meses?
O sentimento do investidor em 2025 reflete um ambiente de crescente incerteza política, que supera até mesmo as preocupações fiscais. A dinâmica do mercado financeiro continuará sendo impactada pelo cenário global, especialmente pela política monetária dos Estados Unidos e pelas expectativas em relação ao próximo ciclo político brasileiro.
Enquanto setores defensivos como utilities atraem maior interesse, segmentos cíclicos como o varejo sofrem com um cenário macroeconômico mais desafiador. Além disso, o aumento da volatilidade sugere que investidores devem permanecer atentos às oportunidades de curto prazo, sem perder de vista a sustentabilidade das tendências econômicas no longo prazo.
À medida que as eleições de 2026 se aproximam, espera-se que o mercado continue reagindo a novos desdobramentos políticos e econômicos. A recomendação para os investidores é manter uma estratégia equilibrada, diversificar seus portfólios e acompanhar de perto as mudanças no cenário nacional e internacional.